Igreja Matriz do Ramalhal
Nossa Senhora da Ajuda e São Lourenço
Nossa Senhora da Ajuda é uma das diversas invocações de Maria, mãe de Jesus. O culto teve início em Portugal durante a Idade Média, sendo particularmente associado a uma ermida que se localizava na praia do Restelo, nas proximidades de Lisboa, onde havia uma imagem de Nossa Senhora que era objeto da devoção de marinheiros e soldados. De Portugal, a invocação foi trazida ao Brasil colonial pelos jesuítas, que levantaram a primeira igreja de Salvador sob sua invocação em 1549: a Capela da Ajuda.
A igreja matriz. Construída no século XVIII, o seu interior tem um altar-mor e dois altares laterais, de rica talha dourada, em madeira do Brasil. As paredes são cobertas por azulejos pintados com cenas religiosas.
História
A história da igreja remonta ao século XVI. A sua construção inicial está ligada à expansão do culto mariano na área, servindo a comunidade local que, na época, era maioritariamente rural e dependente da agricultura. Ao longo dos séculos, a igreja sofreu diversas remodelações e ampliações, adaptando-se às necessidades da população e aos estilos artísticos de cada época.
Um dos períodos de maior intervenção ocorreu após o terramoto de 1755, que causou danos significativos em muitos edifícios religiosos em Portugal. A igreja do Ramalhal, tal como muitas outras, foi reconstruída e reforçada, incorporando elementos do barroco tardio e do rococó que eram populares na altura. A sua história está intimamente ligada à devoção dos habitantes do Ramalhal a Nossa Senhora da Ajuda, que continua a ser celebrada anualmente com festas e procissões.
Fora da povoação também estava sediada a paróquia do Ramalhal, numa antiga ermida localizada no Ameal, de invocação a S. Lourenço, pelo que também era designada por S. Lourenço do Ameal e aí se manteve ao longo do Antigo Regime. A mudança da igreja paroquial para a igreja de Nossa Senhora da Ajuda, edificada em meados do século XVII no centro do Ramalhal, só aconteceu na primeira metade do século XIX (1).
Segundo o livro de visitas da igreja de S. Miguel, citado por Madeira Torres, a fundação da paróquia teria acontecido em 1561, ou no ano antecedente (2).
O mais antigo livro de registo paroquial preservado teve início em 1585, o que confirma a fundação da freguesia ainda no século XVI.

Arquitetura e Exterior
A arquitetura da igreja é caracterizada pela sua simplicidade e harmonia, típica das construções religiosas rurais portuguesas. A fachada principal é marcada por uma entrada em arco de volta perfeita, ladeada por pilastras. Acima da entrada, encontra-se uma janela retangular que ilumina o coro-alto e, no topo, um frontão triangular. O conjunto é encimado por uma torre sineira de planta quadrada, com um sino de bronze.
O exterior da igreja é revestido a branco, com os cunhais e as molduras das janelas realçados em pedra. Esta sobriedade contrasta com o interior, onde a decoração é mais elaborada. O adro da igreja, um espaço de convívio e de encontro da comunidade, completa o conjunto, conferindo-lhe uma atmosfera acolhedora.
Interior
O interior da igreja é dividido em nave e capela-mor, com a nave principal a ser coberta por um teto de madeira em caixotões. A decoração é dominada por elementos dos estilos barroco e rococó, visíveis nos altares laterais e no altar-mor.
O altar-mor, em talha dourada, é o ponto focal do interior. Nele se destaca a imagem de Nossa Senhora da Ajuda, venerada pelos fiéis. As paredes da capela-mor são frequentemente decoradas com painéis de azulejos do século XVIII, que contam passagens da vida de Cristo ou da Virgem Maria. Estes azulejos, com os seus tons de azul e branco, adicionam um toque de cor e história ao espaço.
Nos altares laterais, é possível encontrar outras imagens de santos, como São José ou Santo António. A sacristia, por sua vez, alberga paramentos e alfaias litúrgicas antigas, testemunhos da vida religiosa da paróquia ao longo dos séculos.
Relíquias e Património Artístico
A igreja não é conhecida por possuir relíquias de santos no sentido tradicional, mas o seu verdadeiro tesouro reside no seu património artístico. O principal destaque é a imagem de Nossa Senhora da Ajuda, uma peça de grande valor devocional e artístico. Além disso, a talha dourada dos altares, a azulejaria setecentista e as pinturas que adornam o interior são as suas maiores "relíquias", representando a fé e a mestria dos artesãos que as criaram.
Estes elementos, em conjunto, contam a história de uma comunidade e da sua devoção, fazendo da Igreja de Nossa Senhora da Ajuda não apenas um local de culto, mas também um importante repositório de arte e história local.
(1) Ver SILVA, Carlos Guardado – «Paróquias», ob. cit., p. 122. 246
(2)Ver TORRES, Manuel Agostinho Madeira – Descripção Historica e Economica da Villa e Termo de Torres Vedras, ob. cit., p. 109.



























